Move That Jukebox!


Skol Beats 2008: Choque de culturas prejudicou o festival by marçal

E quem estava lá no Anhembi sabe que o que o título está dizendo é real. O Skol Beats deste ano trouxe atrações bem variadas, o que fez com que pessoas de culturas e estilos diferentes se aglomerassem no mesmo local. A princípio, isto parece bom. Culturas variadas podem se integrar, compartilhando entre si o melhor de cada uma. Porém o que aconteceu neste sábado/domingo foi diferente. A junção de bombados, patricinhas, piriguetes e fashionistas acabou atrapalhando quem foi lá para apenas curtir uma boa música eletrônica. O maior exemplo disto aconteceu no show do Digitalism. Mas vamos começar pelo início. Como apenas um representante do MTJ! pôde estar presente no festival, a resenha tratará apenas das atrações do palco principal.

Às 19h em ponto, os paulistanos do Killer On The Dancefloor abriram o Skol Beats para uma pista praticamente vazia. Mas como já esperavam isso, não se deixaram abater, e os poucos presentes puderam curtir um ótimo Live com cara de DJ Set. Com Fatu cuidando mais das mixagens e Phillip A. fazendo barulho com a bateria eletrônica, eles tocaram um set bem variado, viajando por hits do pop como Rihanna e Gwen Stefani, sucessos do indie e discopunk como MGMT e Does It Offend You, Yeah?, batidas de funk carioca e clássicos do rock. Talvez o ponto mais alto tenha sido o remix de ‘Killing In The Name’, do Rage Against The Machine, entoado pelo público que ia aumentando cada vez mais rápido.

Após eles, vieram os cearenses do Montage, que têm como atração principal o performático vocalista Daniel Peixoto, que vestido em um traje inteiramente prateado e brilhante fazia poses, se esfregava no chão, no microfone, na caixa de retorno. Um tanto forçado. Mas ele conseguiu animar bem o público, ainda mais quando foi para trás do palco e voltou vestindo apenas uma camiseta de smile e um chapéu de oncinha. O loiro ainda desceu do palco e correu pelos mais de 5 metros de distância desnecessários, até encostar nas pessoas que ali estavam lhe prestigiando. Quanto à parte musical, o DJ Leco Jucá e o guitarrista Maurício Fleury deram conta do recado, diferenciando um pouco da sonoridade convencional da banda e fazendo um som mais influenciado pelo maximal francês.

Agora era a vez do Mixhell. Uma bandeira com o logo do duo foi estendida e uma bateria colocada no palco. Iggor e Laima entraram e o ex-Sepultura foi direto para sua bateria meio eletrônica, meio acústica. O live contou mais com bases e batidas pesadas do que com músicas conhecidas, diferenciando-se do set do Killer On The Dancefloor. Iggor se revezava entre mixers e bateria, fazendo todo mundo dançar com o peso de suas baquetas. Mehdi Pinson, vocalista da banda Scenario Rock, que gravou os vocais de DVNO, entrou no meio da apresentação e começou a cantar sobre as mixagens, agitando mais ainda a multidão. Foi um ótimo preparativo para o peso que estava por vir.

Arena Skol lotada, expectativa a mil e a próxima atração eram eles, Justice. Depois de um tempo de espera, todas as luzes do palco se apagaram, a cortina se abriu, e a primeira nota de ‘Genesis’ pôde ser ouvida, ao mesmo tempo em que a cruz se acendeu para milhares de olhos. Finalmente tinha começado. O peso das seis colunas de caixas de som era exatamente o que a dupla precisava para fazer o Anhembi tremer. Falo das caixas fora do palco, pois os 18 amplificadores Marshall presentes no palco são só de enfeite. Mais um elemento da superprodução que é o show deles. Os surpreendentes jogos de luz estavam totalmente alinhados com a música, assim como a cruz, que piscava constantemente no centro do palco.

D.A.N.C.E. foi cantada por todos os presentes e em seguida veio DVNO. Para minha surpresa, quem aparece ao meu lado? Mehdi Pinson, que teve que posar para fotos no meio do show, e compartilhou sua bebida com quem estava em volta. Foi bem interessante cantar DVNO junto com o próprio DVNO. E após mais algumas faixas, veio um dos melhores momentos do show, quando o piano final de ‘Stress’ foi juntado ao sample de Klaxons, fazendo base para o refrão mais cantado do show: “We are your friends, you’ll never be alone again, come on!”. A música veio para deixar a multidão ainda mais enlouquecida e aumentar a atmosfera de festa que estava criada.

Porém tudo isso não foi o suficiente para fazer do show uma unanimidade. O conceito de live não foi levado muito à risca, e a apresentação foi mais para um DJ Set só com músicas deles. O álbum de estréia, ‘Cross’, foi quase inteiramente tocado, e as músicas eram mixadas a samples e entre elas, formando bons mash ups. Mas já era de se esperar isso, já que todo mundo sabia que eles não cantariam nem tocariam piano no meio do live. O que sinto que faltou foi um pouco de inovação, pois quem tem em casa áudios de lives anteriores, praticamente já sabia de cor como ia ser. Apenas acho que eles poderiam ter reservado alguma surpresa para o último show da turnê. No entanto, não dá pra reclamar, o show foi excelente e deixou todo mundo querendo mais. Eu mesmo só acreditei que havia acabado quando os equipamentos da próxima atração começaram a ser montados. A espera valeu a pena.

Fica aqui meu pedido de desculpas para os fãs de Marky, pois eu realmente precisava sentar e comer alguma coisa, e a hora que eu escolhi para isto foi durante a apresentação dele. Voltando para o palco principal, estava começando o show do Pendulum, banda australiana que mistura rock com drum ‘n’ bass, fazendo um som bem pesado. Contando com instrumentos reais e bases eletrônicas, eles fizeram um show recheado de batidas fortes e que colocou grande parte da pista para dançar. O vocalista Rob Swire se comunicava bastante com o público, mesmo seu inglês sendo um tanto incompreensível. Com certeza os pontos mais altos do show foram o remix para a música ‘Voodoo People’, do Prodigy, e ‘Blood Sugar’, presente no álbum ‘Hold Your Color’, que fez a Arena Skol tremer com um ótimo riff de sintetizador.

Enfim era a hora do Digitalism, que chegou no Brasil meio escondido atrás do hype do Justice e por isso não despertou a atenção que merecia. Um grande erro de quem foi embora após a apresentação dos franceses, quando se notou que o Anhembi esvaziou bastante. E nesta hora apareceu com mais força o problema que eu citei no título. O choque de culturas, que vinha acontecendo em pequena escala durante todo o festival, seja com piadas e pequenos insultos, agora havia tomado mais força, pois após os alemães seria o DJ mais esperado pelos trancers, Armin Van Buuren. E grande parte desta turma, ao invés de aproveitar as atrações do festival e curtir o show que estava acontecendo, preferiu desrespeitar o Digitalism e seus fãs, gritando coisas como “ARMIIIN!!”, “ACABA LOGOO”, “TOCA TRANCIII”. A platéia ficou fria, não correspondendo ao grande show que os alemães estavam fazendo. Mas mesmo assim eles conseguiram se sair bem, e é sobre isto que eu vou falar agora.

Jence e Isi realmente sabem como fazer um live. Neste quesito, digo sem dúvidas que eles deram uma lição ao Justice. Várias músicas foram tocadas na hora, as bases eram também feitas por Isi lá mesmo, com uma bateria eletrônica, e quem achava que os vocais seriam apenas mixados junto com as músicas se enganou. Todas as faixas não-instrumentais foram cantadas ao vivo por Jence, que nao se cansava de gritar “São Paulo!”. Isi tentou diversas vezes animar o público, mas sem muito sucesso, o máximo que conseguiu foi braços levantados e alguns gritos. Sinto por aqueles que deixaram de aproveitar a ótima apresentação apenas por ter a cabeça fechada para novidades. Mas pra quem soube curtir, o show foi memorável. Eles tocaram todas as músicas do álbum ‘Idealism’, além do remix ZDRLT (Rewind). Fecharam com ‘Pogo’, em que eu enlouqueci e comecei a tocar junto com eles, batendo na grade de proteção. Grande live!

Após eles ainda tocaram no Live Stage o holandês Armin Van Buuren, eleito pela revista DJ Mag o melhor Dj do mundo, que fez os sedentos trancers dançarem enquanto o dia dava as caras no Anhembi, e após ele o brasileiro Gui Boratto, que diferenciou-se um pouco de seus sets convencionais e se apresentou com banda, dando uma pegada mais roqueira para seu minimal.

Após 14 horas de música eletrônica, o Skol Beats 2008 chegou ao seu final com sucesso e deixando algumas considerações. A segurança deveria ser mais reforçada, já que dezenas de pessoas tiveram celulares e outros pertences roubados. Porém, elogios à produção, que colocando menos ingressos à venda, evitou superlotação, o que ocasionou em poucas filas nos bares e banheiros, os quais estavam sempre limpos. Quanto ao Justice e ao Digitalism, tenho certeza de que suas apresentações seriam bem melhores se fossem em um festival só deles, e em um lugar menor e fechado. A interação com o público seria maior, já que quem vai em uma apresentação deles não vai apenas pra dançar. Vai para assistir, para cantar, para pular, para não esquecer nunca desta data.

Autor: Marçal Righi

Fotos por Marcelo Elídio, retiradas do Rraurl


11 Comentários so far
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Concordo com o Live de Justice que poderia ter sido algo diferenciado, mas mesmo assim foi muito bom! e Digitalism foi ótimo, eles souberam fazer um live decente, e o povo de AvB foi tiop, bem “ew”. que ódio daquelas pessoas paradas, ou passando na minha frente. bando de fdp.

Comentário por Guilherme Ubeda

Poxa, achei que o choque de culturas foi um dos pontos fortes do festival. Em um tempo em que se rotula tudo e que ao mesmo tempo se deseja rejeitar rótulos, um festival que emgloba a música eletrônica em suas diversas facetas deve ser aclamado. Quando fizeram isso eles selecionaram o público, que assim vai mais pelos artistas e menos pelo movimento.
Achei o show do Justice curto, poderiam ter brincado ainda mais, mas amei esguelar klaxons la no meio :D Me disseram que tocaram Franz também, mas eu sinceramente não percebi, talvez pelo meu estado alcoolico hahaha
No show do Digitalism eu estive na grade e lá no fundo e não ouvi ninguém pedir pelo Armin. Apesar dos problemas técnicos e do som baixo o live deles foi muito bom e eles conseguiram animar a mim e às pessoas do meu lado.
Quanto aos roubos eu quase presenciei um. Um careca safado passou a mão pelo meu bolso buscando um celular, não encontrou e ia tentar o outro bolso quando eu o acusei e ele saiu de fininho no meio da muvuca. Um viva às calças skinny.

No mais, achei a organização muito boa, os banheiros estavam limpos e com pouca fila. A fila de entrada também era nula. O que achei ruim foram o som baixo e as luzes amarelas da Skol rivalizando com as do Justice durante o show.

Fiquei triste de perder Agoria e Marky. Disseram que ambos foram espetaculares.

Comentário por fulano

WE
ARE
YOUR FRIENDS!

YOU’LL NEVER BE ALONE AGAAAIN!

C’MOOOOOOOON!

Comentário por fulano

fulano, voce deu sorte entao, porque eu ouvi bastante gente reclamando do show do digitalism.

Comentário por marçal

No final do show eu fui lá pro fundo e o pessoal do ‘trenci’ deve ter ido la pra frente, deve ser por isso mesmo..
O show do Armin começou legal, bem ‘televisivo’, só que depois de um tempo fica muito repetitivo e a paciência acaba. Ele é legal, mas não sei como tem gente que aguenta uma rave de 12 horas só com esse cara. hahaha

Comentário por fulano

boa review.

Comentário por nicolas

os banheiros tavam sujos sim e tinha fila, pra tudo!

também achei o Pendulum o grande mico do festival, e esperava mais do Digitalism…

Comentário por Julio

o choque de culturas pelo menos não deu espaço para os “modinhas” com chapéus de Justin Timberlak….. foi um público q realmente gosta do eletrônico, e não apenas pq está na moda….

Comentário por Beltrano

HAHAHAHA! viva mesmo as calças Skinny.

Comentário por Guilherme Ubeda

nossa, eu vi muitos justin cover, muitos mesmo

Comentário por marçal

Deve ter sido legal demais! Esse negócio de choques de culturas é uma das coisas mais ridiculas do mundo.
Já é falta e respeito sair do festival sem ver as outras atrações, mais ainda é ficar tirando onda. Porra, se num gosta pelo menos fica calado.

Comentário por Monique




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